Há um tesouro de água salgada no subsolo cearense, sobre o qual estão surgindo importantes e promissores nichos de negócios rurais, o mais visível dos quais é o da criação intensiva de camarão em viveiros.
O agrônomo Zuza de Oliveira, ex-presidente da Adece - entusiasmado com o crescimento da carcinicultura no Vale do Jaguaribe, na região Leste do Ceará - examina com olhos aguçados o que ele chama de “mapa do sal”, elaborado pela Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará, cujas cores separam as áreas onde estão a água salgada, a água salobra e a água doce, esta mais concentrada no Cariri, na Ibipaba e nas áreas sedimentares que alcançam todo o litoral e a Chapada do Apodi.
“É por causa das águas salgada e salobra existentes sob o chão jaguaribano que dezenas de antigos agricultores da região já instalaram pequenas fazendas de criação de camarão, de cuja atividade extraem a renda para a sobrevivência de suas famílias”, diz Zuza de Oliveira.
Mas ele se preocupa com o futuro próximo da carcinicultura jaguaribana. “É imperativo que os criadores recebam assistência técnica especializada para prevenir doenças, melhorar sua produção, sua produtividade e suas instalações. Levando em consideração que esses pequenos produtores sertanejos são da agricultura familiar, é aconselhável que essa assistência seja fornecida pela extensão rural pública”.
Zuza considera que outra opção seria uma parceria dos pequenos criadores, de forma organizada, com as empresas fornecedoras de insumos – como a Potiporã, do cearense Cristiano Maia, que é a maior e a mais bem equipada do País, sendo também a fornecedora de pós larva (filhote de camarão) para a maioria dos criadores nordestinos.
O “mapa do sal” da SRH expõe, em cores distintas, as áreas sedimentares – localizadas ao longo do litoral, no Cariri, em Iguatu e nas chapadas da Ibiapaba e do Apodi, onde há boa ocorrência de água doce – e as de cristalino sobre o qual se assentam quase 90% da geografia do Ceará.
Com larga experiência na economia rural, Zuza explica: “O sertão cearense, assentado no cristalino, viverá de nichos de negócios rurais. É nele que se localiza a maioria dos 40 mil poços perfurados no Estado. Um desses nichos de negócios é o da carcinicultura, que tira proveito da salinidade da água do subsolo”.
Ele diz que já está provado na prática que a carcinicultura gera boa lucratividade para grandes e pequenos produtores. No sertão, a criação de camarão está melhorando a renda dos produtores.
“No Perímetro Irrigado de Morada Nova, até muito recentemente, só se plantava arroz. Hoje, há mais de 30 irrigantes produzindo camarão, aproveitando a água salobra dos 400 poços existentes lá. No ano passado, eles tiveram uma renda bruta de R$ 1,4 milhão. Isso vai melhorar porque eles seguem aprendendo sobre sua nova atividade. Em cinco anos, terão aprendido do mesmo jeito que aprenderam a produzir leite”, como narra Zuza de Oliveira.
Ele finaliza, com uma reflexão: “O sucesso da carcinicultura no Vale do Jaguaribe, para ter êxito do ponto de vista econômico-financeiro, precisará unir a inteligência e a ousadia do empreendedor à tecnologia, que só será disseminada se houver assistência técnica de forma permanente”.
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